08/06/2025, 0:00 h
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Nota biográfica
Recentes leituras estivais relembraram a figura de Bento de Jesus Caraça, figura eminente da cultura, da ciência e da vida cívica da primeira metade do século XX português. Historiadores, homens de cultura, companheiros de luta, herdeiros do património intelectual de Bento de Jesus Caraça, recordam cada vez mais frequentemente a sua superior erudição e humanismo e a sua dedicação à causa da instrução como meio de emancipação do homem e do progresso social.
Ulpiano Nascimento, em artigo publicado na revista Vértice de Janeiro /Fevereiro de 1996 com o significativo título O Mestre e o Ídolo, relembra a trajetória de vida do alentejano nascido em Vila Viçosa, filho de trabalhadores rurais, a sua formação académica resultado da proteção senhorial dos patrões, que culmina no ISCEF como Professor Catedrático de Matemática aos 28 anos.
Para além da atividade académica diversificada e pioneira em novos conceitos, Bento de Jesus Caraça dedica-se à divulgação da cultura e das humanidades. Funda a Universidade Popular Portuguesa, palco de grandes acontecimentos e iniciativas culturais, publica numerosos textos de divulgação de valores humanistas e é responsável pela Biblioteca Cosmos, um conjunto de mais de uma centena de títulos publicados, a mais generosa forma de divulgação da ciência e do conhecimento.
Cidadão empenhado na ascensão cultural da sociedade, consciente do contexto sociopolítico e cultural em que vivia e do dever de agir perante as injustiças e a opressão, Caraça participou ativamente nos movimentos políticos de oposição como o MUNAF e o MUD.
A atividade politica de Caraça, nomeadamente nos anos de 31 e 32, organizada no âmbito de um Núcleo de Trabalhadores Intelectuais do PCP, é aliás documentada na mesma Vértice por Alberto Vilaça. Em documentos clandestinos apreendidos pela polícia politica (e que podem ser consultados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo) evidencia-se o propósito do Professor em subsidiar um “jornal clandestino” e de colaborar na formação de uma estrutura unitária legal de intelectuais. Duas vezes preso e afastado da cátedra universitária em 1946, sofreu e pagou caro com o desemprego e a doença, vindo a falecer apenas com 47 anos de idade.
CR
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