16/05/2023, 0:00 h
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CULTURA
Abílio Travessas
“Em 1936, ano da minha descoberta de Trás-os-Montes, juntaram-se num moinho onde vinham trazer centeio, moças de Ifanes que consegui convencer a falarem mirandês. Simpáticas e vivas, cantaram em coro algumas ‘cantigas de segada’ (romances), estas sempre em português, que recolhi e figuram no Romanceiro de Leite de Vasconcellos. Não esquecerei (OR está a escrever meio século depois) jamais a pureza e a finação das vozes, o ritmo dolente da música, como que encerrado no cenário de uma garganta talhada a pique na rígida aplanação da Meseta… hoje submersa pela primeira barragem do Douro fronteiriço.”
Lamenta não saber Música nem Grego que considera fazerem mais falta à sua cultura do que a Matemática; e lança farpa aos geógrafos da ‘nova vaga´ que têm a ciência exacta por excelência, como base da formação.
“Na modesta e asseada hospedaria de Miranda do Douro, apenas com dois quartos, mas excelente comida regada por um vinho local, claro, aberto e leve como só o dão as vinhas no seu limite em altitude, ouvi em sonho aquele admirável coral. E nos alvores da madrugada, assomando-me à janela do Pátio, enterneci-me ao ver uma porca com bacorinhos meio deitados sobre ela, todos ainda adormecidos.”.
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Ainda com o etnógrafo Jorge Dias (numa entrevista ao Expresso, Ernesto Veiga de Oliveira -etnógrafo de renome- fala de J. Dias como uma pessoa que ia às romarias integrando-se no ambiente rural. “Eu ia-me empapando numa cultura que eu via viver à minha volta. Participava mas não sabia que se chamava a isso observação participante. Tudo isso até ao momento absolutamente extraordinário nas nossas vidas em que J Dias nos escreveu da Alemanha a carta a dizer: Afinal, aquilo que fazíamos, andar a “vagabundear”, aqui tem um nome de grande prestígio e é uma cadeira universitária e uma profissão. De repente, percebemos que tínhamos razão”) Orlando Ribeiro visita a casa do Padre FM Alves, em Baçal. Vejamos o que escreveu quando em 1943, vivendo na Alemanha veio passar férias a Portugal, ao Alto Trás-os-Montes:
“Quando chegámos a Bragança decidimos visitar o Abade de Baçal, figura um pouco fabulosa para muitos, sábio respeitado com veneração para outros. …Alguém nos indicou a casa do Abade que nos acolheu com o à-vontade fidalgo e seguro de quem neste mundo é o que é e não pretende ser o que não é. Conversámos primeiro na ampla varanda que dava para o pátio de uma casa de lavoura, onde se amontoava o estrume e corriam os animais domésticos.
Na próxima crónica escreverei, sempre seguindo o precioso livrinho adquirido no Museu do Abade, sobre Hermann Lautensach (geógrafo alemão) e o padre F M Alves.
Abílio Travessas, Professor aposentado
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