Aquele-Cujo-Nome-Não-Se-Pode-Dizer

OPINIÃO

Há nomes que não devem ser pronunciados porque atraem desgraças. Pelo menos é o que atesta a longa sabedoria popular, razão pela qual o povo se refere a entidades demoníacas utilizando nomes diversos do original. É que se falas no diabo ele aparece, pelo que é sempre melhor contornar a identificação do mesmo, evitando que o dito cujo venha a correr pensando estar a ser convidado. Assim, quando as pessoas querem nomeá-lo sem convocá-lo, em vez de Diabo, chamam-lhe Burro, Dianho, Diacho e Mafarrico, entre outros mimos, e ele não percebe que falam de si, pois não é suficientemente inteligente para entender estes pormenores da linguagem.

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Diabos são diabos, mesmo que tenham a forma de gente, e se não desejamos intoxicar-nos com o pestilento odor ao enxofre que exalam, o melhor é impedi-los de se acercarem de nós. Quando ouço alguém dizer que já Chega de corrupção, e eu percebo que quem o afirma anseia desfrutar duma corrupção ainda maior, sinto um frémito a subir do interior da terra, uma abertura no solo a libertar gazes letais. É que, para alguns, limpar Portugal significa seguramente limpar o sebo aos portugueses, privando-os do acesso aos cuidados de saúde (e a outros serviços), deixando cada um à sua sorte.

Como se vê, há um nome que, a ser pronunciado, provoca tragédias, abre as portas dos infernos aos diabos que pretendem impor as suas leis medonhas.

Não o nomearei, nem o tratarei por Burro, Diacho ou Dianho, mas simplesmente por Aquele-Cujo-Nome-Não-Se-Pode-Dizer. É a maneira mais segura de impedir que ele se aproxime de nós.

Dizem que, durante um jejum no deserto, um dos habitantes das Profundezas tentou Cristo, prometendo-lhe felicidades imensas e até mesmo a fuga ao sofrimento da cruz. Prometeu, mas não tencionava cumprir. Apesar disso, imensas pessoas continuam a cair na esparrela de novos diabos, exímios em fazerem as promessas que as pessoas desejam ouvir.

Não, pela parte que me toca, não pronunciarei uma única vez o nome de Aquele-Cujo-Nome-Não-Se-Pode-Dizer, ousando mais facilmente gritar a plenos pulmões o nome do Diabo. É que este não é tão perigoso nem engana tanto.