15/03/2025, 12:56 h
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OPINIÃO POLÍTICA
Por Duarte Dias (Dirigente da Sub-Região do Vale do Sousa e Baixo Tâmega do Partido Comunista Português)
No dia 5 de março, o Parlamento falhou ao país. A moção de censura apresentada pelo PCP, que era uma última oportunidade para travar um Governo mergulhado em promiscuidades e numa política de destruição social, foi rejeitada. PSD, CDS e IL votaram contra. PS e Chega abstiveram-se. Juntos, salvaram um Executivo que há muito perdeu legitimidade moral e política. Aos portugueses, restou a confirmação de uma triste realidade: a maioria dos partidos prefere proteger interesses escusos a defender quem trabalha.
Esta não foi uma derrota do PCP. Foi uma derrota da democracia. A moção era um teste de integridade: ouvia-se o clamor das ruas — dos profissionais de saúde esgotados, dos jovens sem futuro, dos idosos com reformas miseráveis — ou enterrava-se a cabeça na areia. O Parlamento escolheu a segunda opção.
Os motivos para derrubar este Governo eram mais do que evidentes. Desde a entrega da TAP a privados até ao desinvestimento no SNS, passando por escândalos de corrupção que mancham ministros e o próprio líder, tudo apontava para a urgência de uma mudança. Em vez disso, a maioria dos deputados optou por normalizar o inaceitável. A mensagem é clara: privatizações como a da Vinci, especulação imobiliária, salários de miséria e a degradação dos serviços públicos podem continuar. Quem paga a conta? O povo.
A abstenção do PS, em particular, revela a hipocrisia de um partido que se diz “progressista”, mas pactua com políticas que penalizam os mais vulneráveis. Ao recusar-se a condenar o Governo, o PS tornou-se cúmplice do desmantelamento do Estado Social que outrora defendeu. Quanto ao Chega, a abstenção confirma o que já se suspeitava: o seu suposto "populismo de protesto" é teatro. Na hora de decidir, alinhou com aqueles que diz combater.
O resultado desta votação não é um ponto final. É um ponto de partida para o aprofundamento de crises que já estrangulam o país. O SNS, sem médicos nem meios, caminha para o colapso. A habitação tornou-se um luxo. Os salários continuam congelados face à inflação. E a promiscuidade entre o poder político e económico, longe de ser travada, ganhará novo fôlego. O aviso do PCP mantém-se: quem votou contra esta moção ou se absteve será responsável por cada reformado na pobreza, cada família despejada, cada jovem obrigado a emigrar.
Alguns tentarão vender esta rejeição como "estabilidade". Mas que estabilidade é essa que garante lucros a multinacionais enquanto desestabiliza a vida de milhões? A única coisa que se estabiliza é a injustiça. E não nos enganemos: o descontentamento popular não desaparecerá com um voto no Parlamento. Crescerá nas filas dos hospitais, nas fábricas com turnos desumanos, nas escolas sem professores. O Governo sobreviveu, mas a sua política está condenada — e arrastará consigo quem a apoia.
O PCP, único partido que colocou os interesses nacionais acima de cálculos eleitorais, sai desta batalha com a autoridade de quem sempre denunciou o rumo desastroso do país. Aos que o acusam de "radicalismo", lembramos: radical é destruir o SNS, radical é entregar património público a privados, radical é ignorar o sofrimento de um povo.
A 5 de março, o Parlamento falhou. Mas a luta não termina aqui. Cabe agora aos portugueses, nas ruas e nos locais de trabalho, fazer o que a maioria dos deputados não teve coragem: exigir um país que priorize pessoas, não negócios. A história julgará este dia. E o veredito não será gentil para quem trocou a justiça pela sobrevivência de um Governo podre.
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