26/09/2025, 10:09 h
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EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Ano de 1997…
Vou recuar ao ano em que comecei a trabalhar: 1997.
Cheguei a Arreigada no dia 6 de outubro para ocupar uma vaga que ainda não tinha sido preenchida, e para substituir uma colega que tinha ido para outra escola. Na realidade as aulas tinham começado em setembro, mas aqueles miúdos só tiveram professora cerca de duas semanas depois.
Encontrei à minha espera uma turma mista (2º e 3º ano), com 27 carinhas larocas, dos quais 4 tinham Necessidades Educativas Especiais.
Era uma escola pequena, com 3 turmas. Havia uma “empregada”, a D. Maria, que tomava conta da escola.
Lembro-me bem da cara das colegas “mais velhas” quando me viram chegar, ainda uma catraia com 21 anos. Uma delas estava à espera da reforma e ia tomando conta dos alunos enquanto não chegavam os professores novos. Naquela altura, com 51/52 anos, um professor primário já se podia reformar. Nós, novitos, olhávamos para os colegas mais velhos com admiração e respeito por quem já tinha trabalhado uma vida inteira com “canalha”.
Pessoalmente foi o ano em que encontrei 2 “mães” na profissão e que aprendi, pelo exemplo, como devemos olhar e cuidar dos colegas.
Ano de 2025
As colocações dos professores vão acontecendo ao longo do verão. Chega-se a setembro e continua a haver a necessidade de substituir professores, que estão doentes, metem baixa, ou outros que são deslocados para outras escolas ou serviços.
Turmas mistas são uma raridade (quase não existem) e se fizermos a média de alunos por turma quase me arrisco a dizer que, dependendo da escola, no máximo rondaria os 24 e haveria sítios que nem aos 20 chegariam. (Estou a referir-me ao 1º ciclo, a esta zona e a uma média).
Não há quase nenhuma turma que não tenha alunos com Necessidades Educativas Especiais. Nas escolas há várias Assistentes Operacionais (antigas empregadas).
1997 versus 2025
As colocações e substituições farão sempre parte de uma escola: há incidentes/acidentes e é preciso colocar novos professores. A diferença é que agora é difícil quer para os docentes da escola, quer para as famílias aguardar uma semana que seja pela nova colocação. Não são só os miúdos que têm dificuldade de esperar…os adultos também!
Contudo, há uma constante: em 1997 eu era das professoras mais novas na escola – em 2025 continuo a ser! Passaram 28 anos e a classe docente envelheceu. Atualmente nenhum docente do 1º ciclo (Professor Primário) ou Educador de Infância se reforma mais cedo que os demais. E, por isso, quando se chega à escola, encontram-se colegas já com ar cansado, de quem já muito labutou, de quem já ultrapassou muitas mudanças e sente falta de energia para acompanhar o aumento de energia das crianças, que cada vez são mais enérgicas. Este, para mim, é o aspeto que seria necessário alterar: trabalhar com crianças pequenas não se compadece com a idade… É preciso, para as faixas etárias mais novas, gente com energia e com flexibilidade que dificilmente se encontra após os 60 anos.
Nas escolas há uma série de recursos, todos a intervencionar alunos, que cada vez têm mais problemáticas. São psicólogos, terapeutas de fala/ ocupacionais, docentes da Educação Inclusiva…enfim, uma panóplia de agentes a intervir. Mas o que se ouve constantemente é que é preciso mais recursos…
Às vezes brinco a dizer que é preciso um recurso extra para cada aluno e para cada professor.
Já sei que às vezes quase me batem por isso, mas…será que nunca vão ser suficientes os recursos?
Para concluir, acho que o que mais mudou foi mesmo a Sociedade. Hoje só queremos mais, sempre mais e melhor. Nunca temos os recursos suficientes, somos insatisfeitos por natureza. E a questão de termos sempre recursos alocados a crianças com dificuldades é o reflexo da forma proteccionista como criamos as crianças. Sempre houve crianças com problemáticas variadas, mas apesar de tudo, procurava-se que elas fossem desenrascadas e autónomas, dentro das suas capacidades. Hoje metemo-las ainda mais dentro de uma bolha. Começa em casa e nós damos continuidade na escola… É preciso reinventar a sociedade…e a escola também!
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