10/07/2025, 9:43 h
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FREGUESIAS
Por Miguel Meireles
O primeiro e mais importante factor de diferenciação consistia na propriedade do edificado ou de outros bens fundiários, no seu maior ou menor dimensionamento ou, até, na probabilidade de acesso aos mesmos. Referimos já a existência e os lugares de residência dos maiores proprietários fundiários que viviam exclusivamente das rendas. Referimos também a íntima articulação económica e espacial que, com eles, estabeleciam os agricultores caseiros. Estes, não detendo, em geral, senão muito pequenas parcelas agrícolas de cultura ou lavradio, gozavam, ao tempo, de alguma projecção social, fundada na estabilidade económica e na auto-suficiência que o uso da terra lhes proporcionava e que, pelo " bem servir ", a todo o custo, procuravam perpetuar.
A presença de médios e pequenos proprietários fundiários era muito reduzida. Boa parte deles residia em Parada ou fora da freguesia e, com alguma predominância, concentravam os seus haveres no pólo agrícola da Agra. Dois deles residiam e "davam o ser" aos lugares do Rio e Tutinas e os restantes distribuiam-se, de forma dispersa pelos outros lugares com predominância da função residencial. A sua projecção social era particularmente reforçada, se possuíam habilitações académicas e/ou exerciam funções ou actividades de reconhecido prestígio local. Destacavam-se, neste particular, os padres, as/os professores, a farmacêutica, os elementos da Junta da Freguesia e o Regedor, os comerciantes de mercearia e os feitores dos maiores proprietários.
O contingente de grupos domésticos que dispunham de casa própria com pequeno quintal, estavam próximos dos que a usufruiam em regime de arrendamento. Em si mesma e pelos reflexos que tinha nos rendimentos, na autonomia e segurança dos agregados familiares, esta discrepância não era indiferente à projecção social de uns e outros. Convém, no entanto, relativizar o seu poder de influência. Num contexto social geral de muito pequenos proprietários, a condição de proprietário não constituía um factor determinante de distanciamento e prestígio. A posição social reconhecida, fundando-se no capital fundiário disponível, na sua dimensão e potencialidade, dependia também de outros factores, tais como: a qualificação e estatuto profissional, a história familiar de vida, o desempenho de cargos de valor e interesse público, a particular inserção no feixe das interdependências locais.
De qualquer modo, não parece pertinente, a nível vivencial, sobrevalorizar o distanciamento social deste conjunto de residentes, que abundava no lugar das Barreiras e se dispersava pelos outros de função residencial. Os factores que favoreciam a proximidade social esbatiam o reduzido intervalo da diferenciação, derivada dos factores objectivos. A impossibilidade do acesso a níveis mais elevados de rendimento e a um melhor "quadro de vida" era geral e variava com a dimensão dos agregados. Num espaço sócio-económico fechado sobre si mesmo e em que o mercado de trabalho quase se restringia e era regulado por um sector agrícola super concentrado e estático, as hipóteses e alternativas profissionais eram escassas. Os grupos domésticos, detentores ou não de algum capital fundiário, dependiam sobretudo da actividade profissional dos seus elementos e, neste aspecto, as situações eram muito idênticas. Salvo um número reduzido de jornaleiros ou de jornaleiro.
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