16/01/2025, 0:00 h
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EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA (Anos 60 e 70)
Por Miguel Meireles
É nosso entendimento estarmos em presença dum efeito distorsor, derivado da ausência de informação, quanto à emigração clandestina, na mesma década. A taxa do crescimento natural e o volume das migrações internas, ganham uma importância relativa superior àquela que efectivamente tiveram. Da conjugação deste factor com o da distribuição desigual da emigração, por freguesias e pelas duas décadas - anos 60 e 70 - é que terá levado à constituição dos anos 60, em anos de atracção. Acontece, efectivamente, uma significativa desigualdade nas taxas de crescimento das diferentes freguesias, nessas décadas, de difícil justificação tendo exclusivamente em conta o respectivo crescimento natural e o poder de atração, tão diferenciados.
A localização e os limites temporais do surto emigratório, à escala do concelho, permitem essa explicação. Ele distribui-se pelas duas décadas, com início em 63, e pico mais elevado entre 65 e 69, mas prolonga-se ainda, com valores elevados, até 73. Será apenas em 77 que retorna a valores próximos aos do seu início. No mesmo sentido, tem todo o cabimento invocar também a legislação, entretanto aprovada, para estancar a fuga à mobilização militar, pela restrição das saídas legais, facto que terá provocado algum decréscimo migratório e protelado outras saídas para anos posteriores.
Assim sendo, a hipótese explicativa mais plausível para a freguesia de Raimonda - considerando o seu reduzido poder geral de atração - consistirá na conjugação de taxas elevadas no crescimento natural, nos anos 60, com o protelamento e superior concentração do movimento migratório na década imediata.
A decisão de partir, tendo na base condições precárias de vida, com muito baixos rendimentos, pressupôs e promoveu processos, com dominante externa, de ajustamento nas estruturas sócio-económicas internas. A propagação do fenómeno ao tecido social, no seu todo - envolvendo activos, não activos e outros - irá reflectir tanto as desiguais condições de vida à partida, quanto as derivadas do próprio fenómeno em marcha. As tomadas de decisão e a sua concretização espaço-temporal, dependendo da peculiar configuração evolutiva desses factores, não são redutivas a eles. Outros, de natureza diversa, de índole individual e familiar, terão sido também importantes. Entre eles, destacamos a especificidade, objectiva e subjectiva, de cada caso, o grau de motivação e a sensibilidade ao risco, a intensidade das interacções locais, o acesso a informações e à entreajuda de terceiros, a progressiva "normalização " de todo o processo de saída/retorno.
Os residentes em Raimonda mostram-se mais lentos no afrontamento do desconhecido e da insegurança, talvez porque as vantagens comparadas só mais tardiamente os impelem para essa opção. Ao que não terá sido indiferente a persistência duma mentalidade muito vinculada às actividades agricolas e artesanal. que "prende" ao espaço de residência e convivência não só os que lhe estão directamente ligados, mas também os que, ao tempo já exerciam outra actividade profissional. Tanto ou mais que a afectação profissional em si mesma, terão sido condicionantes e possibilitarão uma compreensão mais adequada do ritmo das saídas, a vinculação ao território, à familia e à comunidade de pertença.
Miguel Meireles
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