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Gazeta Paços de Ferreira

26/05/2022, 0:00 h

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Professor: o pai de todas as profissões

Educação

Mas, se o professor é o pai de todas as profissões, esta deveria ser uma profissão valorizada, mas não o é, e porquê?

Sem professores não há médicos, advogados, jornalistas...ou qualquer outra profissão que a sociedade tanto admira.

É com o professor que começa o ensino formal, embora tenha sido em casa e na família que começou o informal.

É com o professor que se inicia o caminho que abre vários caminhos e que se vão descobrindo apetências para várias áreas, aquelas que um dia provavelmente trarão o sucesso individual e coletivo.

Mas, se o professor é o pai de todas as profissões, esta deveria ser uma profissão valorizada, mas não o é, e porquê?

 

A minha experiência

 

Quando comecei a trabalhar há 25 anos atrás, não imaginava as mudanças que ia viver no âmbito da minha profissão. Para mim, a imagem que tinha dos professores era exatamente a que tinha vivenciado ou que me tinha sido passada pelos meus familiares. Oriunda de uma aldeia rural, onde a principal ocupação era o trabalho do campo, ambicionava um futuro diferente e o caminho para tal não podia ser outro que não a Escola e os professores. O respeito pelos professores era um sentimento indiscutível.

Passados estes anos todos, sinto-me uma priveligiada, relativamente a outros colegas meus. Apesar de ter deixado a minha terra natal para trás, assentei "malas" em Paços de Ferreira e nunca de cá saí.

Ao invés, continuo a ter colegas praticamente da minha idade, que ainda andam com a casa às costas: num ano ficam colocados a 15 km de casa, no ano seguinte a 150Km, a 300km ou mais.

 

Desvalorização da carreira docente

Tentanto ser sucinta, a carreira docente tem sofrido uma desvalorização enorme. Vou apresentar alguns motivos:

Instabilidade profissional - podem passar-se décadas a contrato anual ou inferior, com mudanças sucessivas de escola;

Baixos vencimentos- é verdade que há quem ganhe muito menos, mas posso-vos dizer que a diferença já não é assim tão grande para o ordenado mínimo. Para quem vive deslocado da sua residência constantemente, imaginem os gastos...

Apenas posso dizer que fico feliz por ter vários alunos que ganham tanto ou mais do que eu...apesar de praticamente estarem a entrar no mercado de trabalho e eu já ir a meio da carreira.

Mudanças constantes- Quantos programas já mudaram? Nunca sabemos o que vem a seguir... Passamos a vida em experiências, tipo ratos de laboratório, mas nunca se dá tempo para verificar a eficácia das medidas que se implementam. O material que elaboramos no ano passado já não serve, porque entretanto nos mandaram mudar de rumo. É desgastante, parece que nos movemos em areias movediças...

Indisciplina- Os alunos já não são o que eram, a escola nem sempre lhe diz o que devia, mas o essencial é uma palavra que já referi acima e que era indiscutível há muitos anos atrás: respeito. Miúdos reguilas são uma coisa (eu sempre fui), mas mal educados e desrespeitadores é outra. E, infelizmente, algumas salas de aula quase parecem um campo de batalha, onde durante dois terços da aula se tenta apenas repôr a ordem...é desgastante!

Desvalorização social – A sociedade em si não valoriza atualmente os professores. O que ouvimos muitas vezes: ganham bem, têm muitas férias, estão lá para os aturar... Quantas agressões físicas, para não falar nas verbais, assistimos por essas escolas fora? Parece que tudo é culpa da Escola...e a desresponsabilização da sociedade?

 

Consequências

Era impensável há uns anos atrás que chegássemos a este momento em que há falta de professores e por esse país fora, especialmente nalgumas zonas, haja alunos que passaram uma parte do ano letivo sem aulas. Vai piorar! O Ministério já pondera colocar técnicos a lecionar. Há um aspeto fundamental para a docência: pedagogia! Pode saber-se muito de matemática, mas conseguir transmitir os conhecimentos aos alunos é outra coisa. E é isso que falta muitas vezes aos pais e que, apesar de terem muitos conhecimentos, falta-lhes conseguir que os miúdos os entendam.

"Mão de obra" desqualificada trará graves consequências para o ensino...e o futuro o comprovará.

 

Não seria melhor voltar a valorizar a profissão, tornando-a atrativa, dando condições de trabalho a quem dela gosta e para a qual têm vocação?

 

Professor...professora...a base de todas as outras profissões...é urgente respeitá-la e valorizá-la e isso também depende de cada um de nós.

 

Rosário Rocha

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