20/07/2024, 12:00 h
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Da sua conversão um cântico de glória … da sua falha o toque dos finados
Por José Neto (Doutorado em Ciências do Desporto; Docente Universitário; Investigador)
COMENTÁRIO DESPORTIVO
Surgem de forma frequente opiniões referentes a esta questão como se de um caso de sorte ou azar se tratasse no êxito para a sua resolução.
Sabemos hoje que a dinâmica do Futebol e o seu grau de exigência para o sucesso, tem de estar ancorada de razões que sejam capazes de promover a capacidade de vencer resistências adversas, para a obtenção de níveis elevados de rendimento, para que se atinja o êxito.
Não sendo o Futebol uma ciência, são várias as ciências que oferecem um contributo extraordinário para que tal aconteça, tais como: Fisiologia, Psicologia, Nutrição, Treino Desportivo, Estatística, Medicina Desportiva, Biomecânica … etc… que, associadas a uma planificação e programação cuidada, podem conduzir ao sucesso na competição.
No correspondente ao caso em causa, isto é, na marcação de uma grande penalidade, estudos de vários autores como Morris e Franks (1997) e Wisiak (2004), ajustados e confirmados pessoalmente, uma bola que atinja em média uma velocidade de 100 a 120 Km/h – 20.83 a 27.73 metros/segundo, demora a percorrer 600 a 400 ms (milissegundos) a ultrapassar a linha de baliza.
Caso o guarda-redes espere pelo remate para reagir, terá um diferencial de 338 ms a seu desfavor, pois o seu tempo de reação é de cerca de 700ms, isto é, uma velocidade de reação de 4 metros /segundo, quando para ter tempo de defesa, deveria possuir uma velocidade de 7.7 m/s. Logo, o guarda-redes tem mesmo de se antecipar à saída da bola, pelo marcador, acompanhado do seu poder de intuição ou previsão antecipada do resultado. Pergunto: será possível treinar isto e em que condições o deverá fazer?
Sabemos que os maiores fatores para um boa tomada de decisão e que podem influenciar a resposta, são: capacidade sensitiva, perceção, memória, atenção e concentração, capacidade de ultrapassar expetativas perante a pressão, capacidade intelectual, autoconfiança, motivação, boa condição física, etc…
Também a experiência acumulada referente aos jogadores marcadores, uma boa leitura da trajetória de corrida, o foco visual (perante níveis de ansiedade elevados, o jogador marcador tem tendência a centrar o seu olhar para as zonas de maior preocupação), a perna de apoio para o remate, a posição da bacia no momento do pré contacto com a bola, a posição do braço contrário à perna do remate (tendência para um ligeiro ou amplo afastamento lateral), são indicadores a ter em conta no aspeto avaliativo para quem defende.
Ainda do jogador rematador (e também do guarda redes), deverão estar associadas uma elevada capacidade de concentração, utilizando a capacidade respiratória, imaginação e visualização mental, focalizando de forma antecipada as condições de previsão do êxito como sentir a bola a bater nas redes, ou na defesa da mesma, os colegas a aplaudir, o estado de graça autenticado com uma palavra /chave, eliminando fatores adversos, considerados como lixo (ruido, resultados negativos, experiências nefastas, condições atmosféricas, informações derrotistas que surgem do exterior…), e remetendo para o seu interior, um pensamento positivo misturado de afeto, que pode ser exemplo de familiares ou de pessoas que fazem parte do código pessoal de regeneração afetiva, pois, como temos dito, o pensamento positivo ajuda de forma extraordinária a concentrar naquilo que se pretende atingir e destruir o que se pretende evitar.
Num ou noutro caso, como atrás referi, deverá apelar ao nível da consciência uma palavra ou frase /chave, que funcionará como garantia de uma testemunha viva, ou âncora para o sucesso. Além do mais, poderá verificar o seu estado de ansiedade somática, analisando o suor de mãos, inquietação corporal momentânea, batimento cardíaco (sabemos que em situações desta natureza, a frequência cardíaca pode registar valores de 160 a 180/minuto).
É evidente para se obter estes níveis de prestação, muita qualidade e perseverança no treino (que habitualmente cognominamos de engenharia ambiental, associada a outro palavrão – dessensibilização sistemática), que ainda estará para durar, (cada vez menos tempo do que o previsto), o seu processo de planificação e aplicabilidade.
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Penso, por isso, que é preciso tudo fazer para que estas e outras questões que o jogo coloca devam ser resolvidas pelo treino, e que as questões do treino se promovam no jogo.
A título pessoal posso atestar que cerca de 82% das marcações de grandes penalidades, imediatamente antes da bola ser desferida, é estimada a direção para o local onde se vai dirigir, esquerda ou direita do g.redes.
Marcação de uma grande penalidade, azar, sorte, lotaria? … ou o uso do treino em competência para a conversão da oportunidade (defesa ou golo) em jogo?...
Jamais será a razão absoluta ou a certeza das razões para o sucesso … mas que ajudará a algo de mais significativo em se poder guiar contra o fracasso, eu penso que não estarei errado.
Agora o curioso (ou talvez não) é que quando o nosso Diogo Costa defendeu as 3 grandes penalidades contra a Eslovénia, logo se comentou que foi a competência que entrou ao serviço, mas nas penalidades contra a França em que não obteve êxitos nas defesas, imediatamente se referiu a questão do azar!... Enfim!... não farei comentários de ordem técnica, tática ou operacional, mas não deixo de dizer que tínhamos uma seleção que bem poderia ter ido mais longe, dada a competência de quem da mesma faz parte!... O Mundial é já amanhã … convém não adormecer sobre os venenos de más memórias!...
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