17/06/2024, 18:02 h
108
Figura Municipal
Maria da Graça Pereira Pacheco Neto, natural de Lamoso, 5.10.47, filha de João Pacheco Neto (João do Neves), pedreiro e de Angelina Pereira Neto (Badal), doméstica, com mais onze filhos, frequentou o curso de enfermagem aos 18 anos, contra a vontade dos pais, com recurso a uma “habilidade” sugerida pelo pároco de Figueiró.
Estudou as primeiras letras na escola feminina, das Lamas, Figueiró, do outro lado da Estrada Nacional e da escola masculina, onde só havia um livro por onde todos aprendiam.
A professora que era muito jovem, grávida, casada com um advogado, sugeriu aos pais que fizesse a “admissão” e a pusesse a estudar, o que estes não aceitaram.
O seu destino seria “ir servir”, isto por mais 11 filhos não permitiam esse “luxo”.
- Se a não deixa estudar, deixe-a vir para minha casa tratar do meu filho.
Foi e frequentou aulas noturnas e concluiu o Ciclo Preparatório nos dois anos seguintes.
O pai João ia lá ao Porto todos os meses de mota buscar o ordenado. Este, quando soube que ela não lhe entregava as gorjetas que recebia foi o “bom e o bonito” - não vem mais para cá, já está a ensinar a minha filha a roubar -, disse o pai à professora/patroa.
Tinham passado quatro anos e meio mas foi novamente “servir” para casa de um médico, cuja mulher ia ter o 3.º filho e era amigo do casal anterior.
Este médico viu-lhe características para ser uma boa enfermeira e incentivou-a a ir estudar à noite: assim fez o 3.º ano, o 4.º e o 5.º do liceu, terminando em 1967.
Entretanto, o pai morre, de acidente, em 5 de setembro de 1967, tendo vindo a Figueiró às cerimónias fúnebres.
A enfermeira Esmeralda, madrinha da prima Alda, anuncia-lhe que estão abertas as inscrições para o curso de enfermagem.
Submetida aos testes necessários, é admitida.
E agora?
Só tem 17 anos, faltam uns dias, e torna-se necessário formalizar a inscrição no curso, mas como só fazia 18 anos em outubro, necessitava, para além da declaração de que não pertencia ao PCP, da autorização dos pais, neste caso da mãe.
ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA
Aqui é que iria ser difícil. Quando lhe disse, exaltou-se e berrou-lhe:
- Nem penses! Não vais! Se fores, não entras mais em casa!
- As enfermeiras são todas umas putas! (esta “fama” das enfermeiras não poderem casar e, por isso, iam-se “casando” às escondidas pois iam aparecendo grávidas.
Mas o “milagre” da autorização deu-se por intervenção do Padre António Vieira.
Tendo contactado o pároco para levar à mãe os documentos da funerária para obter os apoios pela morte do pai, o pároco aconselhou-a a meter-lhe no meio da papelada uma declaração da autorização, que ela assinaria, pois só sabia assinar o nome, não sabia ler.
E assim, foi concluído o processo de inscrição no curso de enfermagem que frequentou com uma bolsa de estudo da Escola de Enfermagem (Governo), com a condição de trabalhar no público até reposição total da bolsa.
Opinião
7/10/2024
Opinião
6/10/2024
Opinião
6/10/2024
Opinião
6/10/2024