14/03/2025, 10:38 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Avaliar e classificar
Ao contrário do que está quase instituído como certo, avaliar é diferente de classificar. Frequentemente se diz: “Esse teste ou trabalho conta para avaliação”. Quando se diz isso, quer dizer na realidade que conta é para a classificação. Vou tentar explicar…
A avaliação é o que se faz quase sempre na atividade docente. Pressupõe que haja um processo participado entre professor, alunos e até entre entres e os pares, no sentido de clarificar, de saber em que ponto os alunos estão na sua aprendizagem; de clarificar que metas devem atingir e orientar, muitas vezes, na melhor forma de lá chegar, caso os discentes não o estejam a conseguir. Este é o trabalho que se faz no dia-a-dia, ao acompanhar os alunos na execução das tarefas, na observação dos processos que utilizam.
Classificar, por sua vez, implica dar uma nota, um valor. É colocar o aluno numa escala definida, mediante os resultados que obteve nas provas a que foi submetido. Na realidade é dizer-lhe: ”Vais ter um Bom, um quatro, ou um 14”, conforme o nível de ensino que frequentem.
Na realidade muito se tem insistido na avaliação formativa, aquela que mais serve aluno e professor, ou seja, que serve o processo de aprendizagem, na medida em que permite que haja uma melhoria na aprendizagem, que permite que se detete onde o aluno está a falhar e possa melhorar, alterando estratégias, para que depois a classificação possa ser melhor.
Avaliação docente
Passará certamente despercebido à maioria que os professores e educadores também são avaliados ao longo da carreira.
Ultimamente este tema tem sido mais divulgado, pois como o governo devolveu o tempo de serviço congelado, praticamente todos os docentes serão avaliados este ano.
Para haver progressão na carreira, é necessária uma avaliação. A progressão está dependente de algumas condições: tempo de serviço, formação e avaliação. Sem estes três requisitos cumpridos, não há mudança na carreira.
Como são avaliados os docentes?
Ao contrário do que acontece com os alunos, não se pode considerar que haja avaliação formativa, ou seja, aquela que permite melhorar o desempenho. Analisando o processo, considero que a avaliação docente reside praticamente só na classificação. Antes da mudança de escalão o docente faz um relatório de autoavaliação e o coordenador de Departamento atribui uma nota a esse docente.
Nalguns escalões da carreira, além dos requisitos referidos acima, há ainda um outro que é necessário cumprir: a observação de aulas. Quer isto dizer, que nesse ano, haverá um professor, por norma num escalão acima e de outro Agrupamento, que irá observar o docente avaliado a dar aulas, duas vezes, durante 90 min cada. Será classificado, ser-lhe-á dada uma nota e depois fará média com a avaliação dada pelo Coordenador de Departamento.
Este ano há uma azáfama nas escolas, pois muitos docentes terão que ter aulas assistidas. O que acontece é que os professores observadores terão que deixar as suas turmas para irem avaliar colegas.
Injustiça
O grande problema na avaliação docente é que não se rege pelas regras da avaliação discente. O docente, habituado a insistir na avaliação formativa, naquela que permite que o aluno melhore e atinja os melhores resultados possíveis, que a par com o discente procura que a classificação deste chegue aos níveis mais elevados, seja um Muito Bom, um cinco ou um 20 na pauta, vê-se a ser avaliado com outras regras.
É motivo de orgulho ver a pauta de uma turma em que um elevado número de alunos tem a nota máxima ou quase.
No caso dos docentes, o governo estabeleceu que numa “turma” de 20 professores, apenas um poderá ter nota máxima, ou seja, Excelente e quatro podem ter Muito Bom. Os restantes, mesmo que na avaliação do Coordenador e do Professor Observador tenham tido avaliação superior, têm que descer. É o mesmo que dizer a um aluno: “tiveste média de nove e meio, mas vais ficar com um oito, porque não há lugar para ti acima do nove”. Imaginam os pais e os alunos se isto se passasse na avaliação discente?
Abordei esta questão agora, pois sei, que no final deste ano letivo, haverá nas escolas muito professor descontente, precisamente, porque se sentirá prejudicado e injustiçado na sua avaliação. Quase todos seremos avaliados, mas poucos poderão ficar com a nota que merecem, de muito bom ou excelente, pois as quotas da avaliação não o permitirão e isso provoca, inevitavelmente, algum desalento, até porque, regra geral, os nossos docentes têm um desempenho muito bom e não o podem ver reconhecido.
Injustiças…
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