23/07/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Filipe Rodrigues Fonseca (Investigador em Inteligência Artificial)
OPINIÃO
Não sendo um tema consensual, há muita desinformação e jogadas de marketing que ofuscam as verdadeiras questões éticas da área.
Na minha primeira aula de Inteligência Aritificial, o Professor apresentou uma adaptação do dilema do comboio da Philippa Foot, que me marcou pessoalmente.
Num cenário em que um carro de condução autónoma tem, à sua frente, quatro peões a passar a estrada, em que não consegue travar a tempo e, caso se desvie para o passeio, atropela apenas um peão, o que deve o carro fazer?
A inteligência artificial não pode, nem deve, ser a responsável por tomadas de decisão como esta. Isto porque, ao contrário de um humano, a IA decide conforme a informação recebida por sensores e câmaras. Num eventual erro destes sensores, a deteção de uma sombra maior na estrada ou um ramo de árvore pode ser compreendida como humanos presentes, levando o carro a matar uma pessoa inocente sem razão aparente.
Apesar deste caso ser hipotético, houve 14 pessoas no mundo que já perderam a vida para um carro em modo de condução autónoma.
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Há questões que se levantam sobre que níveis de segurança são necessários para lançar a IA no mercado e em que áreas esta deve ser utilizada. A inteligência artificial não representa apenas problemas éticos.
Segundo o FMI, 40% dos trabalhos serão afetados por IA, impactando maioritariamente empregos menos qualificados. Isto aumentará o fosso entre classes sociais e contribuirá para uma maior desigualdade social. É preciso medidas de prevenção antes que os impactos sejam irreversíveis, que garantam os direitos dos trabalhadores sem inibir o desenvolvimento das tecnologias.
Nem todos os trabalhadores, que serão substituídos pela inteligência artificial, têm acesso à educação necessária para se requalificarem, sendo necessário alcançar um equilíbrio entre o desenvolvimento de novas tecnologias e a segurança económica da população.
A IA é uma tecnologia multifacetada, que lida com diversas questões éticas e impõe grandes mudanças na estrutura social da sociedade. O “AI Act” desenvolvido pela União Europeia é um passo no bom caminho, mas acaba por vir como medida de resposta a alguns problemas em vez de prevenção do que pode acontecer no futuro. Coletivamente devemos começar a priorizar estas questões, que terão grandes impactos no futuro próximo.
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