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Gazeta Paços de Ferreira

01/02/2025, 0:00 h

629

Ilhas do passado

Opinião Ricardo Neto

OPINIÃO

2025 ficará marcado pelo facto das duas grandes potências mundiais, que se medem e vigiam nas ilhas Diomedes, serem hoje verdadeiras ilhas de ontem.

Por Ricardo Jorge Neto

 

Um novo janeiro voltou, e com ele um velho presidente retomou as rédeas de uma das mais importantes nações do mundo.

 

 

Este mesmo mês de janeiro deve o seu nome ao deus Jano, o deus das mudanças, personificado com duas faces, um idoso, que olha para o passado e um jovem, que olha para o futuro.

 

 

E, claramente, o mundo está a apostar as fichas no idoso, que olha para o passado.

 

 

O ano abriu com declarações do futuro presidente norte-americano desejando anexar a Gronelândia. Algo que fora discutido nos Estados Unidos em 1867, quando os americanos compraram o actual estado do Alasca à Rússia.

 

 

Nesse processo de aquisição territorial, o secretário de estado William H. Seward pretendia também adquirir a Gronelândia e a Islândia, mas as críticas ao plano apenas permitiram a compra do Alasca.

 

 

Mas, ao contrário do que se possa pensar, esta forma de expansionismo foi utilizada por muitos países, como, por exemplo, a compra do estado do Acre pelo Brasil à Bolívia; e muitas vezes pelos Estados Unidos, que compraram os estados da Califórnia, Nevada, Novo México, Utah, e Arizona ao México; o estado do Louisiana à França, e o estado da Flórida e as Filipinas à Espanha.

 

 

Nada disto é novo, e esta ideia de anexar a Gronelândia é apenas um revisitar duma política e duma ideia antiga, renovada com a fome de deitar mão aos recursos naturais desta região.

 

 

Regressando ao plano Seward e à compra do Alasca, esta transacção de 7,2 milhões de dólares em 1867, o equivalente a cerca de 130 milhões de dólares, ou, se preferirem, ao valor que o Atlético Madrid pagou ao Benfica para requisitar o jogador João Félix, deu origem a algo extraordinário.

 

 

 

 

A divisão entre o território americano e russo passou a localizar-se entre as ilhas Diomedes. Localizadas no estreito de Bering, as ilhas Diomedes são compostas por duas ilhas, a Diomede Maior ou Ilha Ratmanov sob jurisdição russa, e a Diomende Menor ou Ilha Inupiaq, território norte-americano.

 

 

Distanciando cerca de 4 km uma da outra, estas ilhas formaram uma verdadeira Cortina de Gelo, nos anos da Guerra Fria. Mas o maior fascínio nestas ilhas é o facto de elas também serem conhecidas como a Ilha do Amanhã e a Ilha de Ontem. Isto porque a ilha Diomede Maior está sempre um dia adiantada em relação à ilha Diomede Menor, ou seja, se estivermos na ilha menor olharemos a ilha maior no dia de amanhã, e na ilha maior veremos a ilha menor que ainda estará no dia ontem.

 

 

Mas 2025 ficará marcado pelo facto das duas grandes potências mundiais, que se medem e vigiam nas ilhas Diomedes, serem hoje verdadeiras ilhas de ontem.

 

 

Dum lado a ‘’ilha’’ de Putin inundada pela repressão, censura e castração de liberdade, e focada no recuperar dum império perdido.

 

 

Do outro lado a ‘’ilha’’ de Trump, uma marioneta nas mãos dos poderosos tecnológicos, que desenterra os ódios mais profundos, com o sonho de tornar a América grande, como se esta alguma vez tivesse sido pequena, aliada desta nova ideia expansionista… esperemos que não se lembre dos Açores, algo que deixaria desconfortável, ou não, o líder da extrema-direita em Portugal.

 

 

Num momento em que tanto se fala em sensações, tenha a sensação que este ressuscitar do pior, do que o passado teve, vai terminar no mesmo desastre vivido no século passado, e no dia em que se voltar a olhar para o amanhã, alguém vai perguntar como foi possível repetir os mesmos erros do passado…

 

 

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