04/05/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Ricardo Jorge Neto
OPINIÃO
Numa primeira impressão, poucos saberão de quem se trata. Mas se vos falar de Tó, o inseparável assistente de Duarte, interpretado por Rui Mendes, na série ‘’Duarte e Companhia’’, muitos lembrar-se-ão dele nesta série, que prendia os portugueses à televisão, na década de 80, do século passado.
Mas António Assunção foi muito mais do que o ator brincalhão, que fez o país rir no papel de chefe de polícia, em ‘’Zé Gato’’, ou de frade comilão em ‘’Caldo de Pedra’’.
António Assunção foi um homem com a alma cheia de teatro, e em palco vivenciou as grandes obras cénicas de dramaturgos como Bertolt Brecht, Federico García Lorca, William Shakespeare, Nicolau Gogol, Molière, Gil Vicente e Samuel Beckett.
Mas tudo começou, quando ainda vivia no Porto, e se estreou no Teatro Experimental do Porto, na peça ‘’ O avançado-centro morreu ao amanhecer’’, em agosto de 1965.
Contudo, com a sua chamada para a Guerra Colonial, António Assunção exilou-se em Paris, fugindo a uma guerra que não aceitava. Em Paris, conheceu Carlos César, ator e encenador, e co-fundador do Teatro de Animação de Setúbal, e com ele vai representar um conjunto de espetáculos que afrontaram os antigos ditadores, Oliveira Salazar e Marcelo Caetano.
Com ‘’A exceção e a regra”, “Felizmente há luar” ou “O grande fantoche lusitano’’, António ganhou um lugar especial nos relatórios da PIDE, que o iam observando à distância.
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Também entrou no filme ‘’O Salto de Christian de Chalonge’’, que narrava a vida miserável dos portugueses, que fugiam dum Portugal arruinado, para as ‘’bidonville’’ em França.
Com o 25 de Abril, regressou a Portugal e envolveu-se em intensa atividade teatral, em Setúbal e em Lisboa.
Sendo um homem de esquerda, e de princípios muitos fortes, foi muitas vezes ostracizado, mas, apesar disso, conquistou o seu espaço na tela da televisão, e na tela maior do cinema, como foi o caso do filme ‘’A casa dos espíritos’’ de 1993.
Um dos seus sonhos era um dia poder visitar Nova Iorque. E em agosto de 1998, juntamente com a sua família, foi até à cidade da Broadway.
E enquanto assistia a uma peça de teatro, quis cumprir a tradição de subir ao palco no intervalo! Mas, enquanto contemplava, emocionado, o cenário do palco, o seu coração parou! O auxílio veio pouco depois, e enquanto os paramédicos o tentavam trazer de volta, o público bateu palmas e chamava por ele… mas a sua hora tinha chegado!
António Assunção, um homem que sofreu com a ditadura, e que fez do teatro a sua vida e a sua morte, nasceu em Paços de Ferreira no ano de 1945, e com dois anos mudou-se para o Porto.
O seu nome ficou imortalizado na nossa memória, com os seus personagens cómicos, e ficou edificado em Almada no Teatro-Estúdio António Assunção. Hoje decidi escrever sobre a sua vida, porque, apesar de desconhecido por cá, ele foi um homem de Abril, e um conterrâneo de todos nós!
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