16/02/2023, 0:00 h
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OPINIÃO POLÍTICA
Cristiano Ribeiro
Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis (Bertolt Brecht)
Os professores da Escola Pública estão em luta, já todos o sabemos. Sucedem-se as concentrações, as greves, as manifestações de massas. A luta dos professores é particularmente justa e necessária. Justa, porque não prescinde de razões objectivas, objectivos claros, propósitos indiscutíveis. Necessária, porque tem repercussão efectiva na Educação, na Democracia, no País, mostrando que há um País quem não se resigna, não se conforma e exige respostas num espaço cívico fundamental, como é a Escola.
A mobilização é forte, a combatividade é evidente, e a unidade nas reivindicações abrange todos os sectores políticos e sindicais existentes dentro da classe. E porquê? Como se conseguiu este feito?
Nos últimos 12 anos, os professores tiveram o seu salário desvalorizado em cerca de 24%, o que é imenso. Esta significativa perda material de rendimentos é um dado a realçar, tanto nos mais velhos como nos mais novos. Por ela, muitos abandonaram a profissão. A progressão salarial (e as expectativas das futuras pensões de reforma) é impedida também com artifícios administrativos por políticas de vagas e cotas que não valorizam o estatuto e a carreira. É portanto, e também, o seu rendimento atual que leva muitos professores a proclamar uma exigência: Respeito! A contagem integral do tempo de serviço aparece como uma inultrapassável reivindicação da classe.
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Mas há mais. Com a falta de professores, a não renovação geracional, a impossibilidade de um regime especial de aposentação, tornou-se a Escola Pública um local precário e desconfortável onde se generalizam períodos longos de falta de professor pelo menos a uma disciplina, onde cresce a desesperança.
A luta dos professores tem já um histórico de longos anos, com as mesmas reivindicações de sempre. Aguardar-se-ia por isso agora uma resposta inteligente do Governo, com propostas concretas, mesmo que parciais, faseadas ou condicionais. Aguardar-se-ia a valorização do possível, não se descurando o propósito do compromisso e da responsabilidade. Mas não. A fixidez e a intransigência clássica surgiram. Aparentemente não está (ou esteve) na agenda e estratégia do Governo PS o reconhecimento de direitos, uma orientação diferente. O PS agora, tal como outrora o PSD, não encontra virtualidades num novo tempo e numa classe docente empenhada, aberta a crítica e novas pedagogias, com novos indicadores de sucesso.
Um Ensino de sucesso exige professores e educadores dignificados, reconhecidos, competentes. Estaremos porém a anos-luz da reflexão necessária e inteligente sobre o papel da Educação e da Formação. E um governo acossado, em pânico, não é bom conselheiro.
Uma nota final sobre novos protagonistas da luta sindical Congratulemo-nos com a pluralidade envolvida numa luta comum. Nunca é desperdício essa pluralidade, antes uma realidade. Todos podem ter objectivos específicos e objectivos comuns. Acordar para a luta é positivo. Mas o património de luta está e estará sempre para os imprescindíveis, tal como afirmava Brecht.
CR
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