24/07/2025, 0:00 h
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FREGUESIAS
Texto: Miguel Meireles / Foto de arquivo
Áreas extensas de mato e de terrenos agrícolas interpunham-se entre eles. Os factores naturais e a adequação humana e social que mereceram contribuíram para a conformação e consolidação da colectividade.
Sem serem impeditivas dos intercâmbios recíprocos, as manchas periféricas demarcavam espaços territoriais autónomos de convivência. Num quadro, em que as diferenças objectivas entre colectividades eram pouco visíveis, os residentes em S.Pedro estabeleciam entre si e com o seu território relações de pertença e de identidade, que o instituíam como específico e único.
Não se pode falar de fronteiras rígidas entre S.Pedro e as colectividades contíguas. As múltiplas relações de parentesco, entre os que nelas residiam, iam-se sempre bido em reproduzindo e diversificando, por novas trocas matrimoniais. Outros intercâmbios ocorriam, de forma contínua, em razão da procura e exercício de trabalho, da troca de produtos ou serviços. As festividades religiosas constituíam momento privilegiado na expressão e consagração do relacionamento, que a vivência quotidiana implicava.
A influência do relevo, da rede hidrográfica e da diferente aptidão agrícola dos solos eram bem visíveis na ocupação do espaço e na distribuição espacial do povoamento. Os solos mais férteis dos vales e planícies ou das encostas suaves estavam reservados à agricultura. As cotas mais altas e alguns morros dispersos cobriam-se de mato e árvores. Por toda a meia encosta, voltada SW, de solos menos férteis e dispostos em socalcos, dominavam os pequenos quintais com habitação anexa.
A ocupação e a organização do espaço de S.Pedro, em meados do século, reflecte a grande importância que, para os residentes, mantinha a actividade agrícola. Esta importância está bem expressa na afectação agrícola, quase exclusiva, das depressões fluviais e das áreas adjacentes, às produções agrícolas. Razões de complementaridade funcional e económica, reforçadas pelas vantagens da proximidade, urgiram a preservação de algumas manchas dispersas de mato e árvores. O mesmo aconteceu com outras, mais extensas e distantes, localizadas a cotas mais elevadas de altitude. A expansão do habitat pela meia encosta, que o dinamismo demográfico implicou, correspondeu à necessidade de preservação deste equilíbrio e viu-se condicionada pela grande concentração da propriedade fundiária.
A combinação histórica dos factores naturais e económicos referidos traduziu-se numa peculiar configuração social dos diferentes lugares. A meia encosta oferecia-se como espaço privilegiado dos pequenos e muito pequenos proprietários, possuidores ou não das casas/quintal que habitavam e cultivavam. Dedicavam-se, em grande número, às artes e ofícios e, parte deles, nessa qualidade, trabalhava e dependia dos maiores proprietários fundiários. Paredes meias com eles, conviviam outros, desprovidos de quaisquer bens patrimoniais, que asseguravam a sua sobrevivência como jornaleiros, por expedientes ocasionais ou com ajuda de esmolas.
Miguel Meireles
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