06/06/2025, 0:00 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Direito ao lazer
Antes de mais, deveriam ter direito a serem crianças. A brincar, a serem livres, mas com orientação, com regras. O interesse superior da criança deve ser o foco, a responsabilidade principal dos seus pais, ou de quem faça esse papel. E a eles cabe a missão de brincar com as crianças, de lhes proporcionar momentos de jogos e brincadeiras educativas. Cada criança tem o direito de brincar com os pais todos os dias e não apenas em momentos especiais. E brincar é tão abrangente! Pode ser na rua, ou simplesmente na cozinha. Mas as crianças têm o direito a serem filhas dos pais! Não pais que acenam sempre afirmativamente ou que dão tudo, mas pais que ouvem, que orientam, que regulam, que ensinam o bem. Pais para quem os filhos são únicos, mas que os ensinam a olhar para o outro, para serem solidários, para serem empáticos. Pais que os façam sentir que são o seu mundo, a sua prioridade, através do Amor e não da idolatração ou endeusamento. Têm direito a uma parentalidade responsável e assertiva, não permissiva.
Direito à educação gratuita
As crianças têm direito a uma educação escolar de qualidade e gratuita. Mas para ser uma verdadeira educação, as crianças têm direito a ir à escola, mas não a viver lá a maior parte das suas vidas. A não ver a instituição transformar-se num depósito, onde passam tempo a mais. Têm direito a aprender, mas não a ser torturados com currículos obscenos, desajustados à sua faixa etária; currículos que não se ajustam às suas capacidades e potencialidades; currículos que aprisionam e são violentos. E mais violento ainda é passarem tempo a mais na escola e ainda terem que ir carregados de TPC, prolongando a violência para lá do horário escolar.
Têm direito a tempo para brincar entre o “trabalho”. Têm direito a aulas mais livres, que fujam da sala de aula e pulem para lá das paredes da escola. Aulas mais práticas e onde aprendam a resolver problemas básicos do dia-a-dia; direito a serem preparados para a vida.
Direito a falhar, ao insucesso, a ter tempo
Este é um direito que devia ser obrigatório e implementado atualmente. Aparentemente as crianças têm direito a isto tudo, mas não têm. Têm que ser perfeitos principalmente no que diz respeito ao social. Têm que ser os melhores no futebol, na ginástica, na música… Não falham…e se houver alguma falha, será sempre culpa do outro. Não se podem sujar, nem empurrar, nem chamar nomes… Não se podem contrariar pois entram em sofrimento. Tudo tem que ser resolvido na hora e até uma simples febre de 37,3ºC já é suficiente para uma colher de remédio.
Poucas são as crianças que têm direito a ser irrequietas, distraídas, ou simplesmente preguiçosas. Imediatamente a medicina lhes garante um medicamento que resolve esses problemas. Medica-se por tudo e por nada e não se ensina a regular as emoções. Crianças são (ou deviam ser) mexidas, podem distrair-se e até desligar por momentos. Não são máquinas: são pessoas! Têm que ter momentos de falhanço, de dificuldades, de tristeza até. Têm que sentir as diversas emoções e não devem ser adormecidas com fármacos. Têm que aprender a lidar com as diferentes situações e aprender através delas. E têm que ter tempo para as resolver. Têm que saber gerir conflitos e só aprendem se os vivenciarem, e muitas vezes a orientação é suficiente, não é preciso que o adulto resolva.
Têm direito a magoar-se, a sofrer e tentar curar-se sozinhas.
Para finalizar, as crianças têm direito a serem crianças. A errar, a falhar, a superar, a tentar. Têm que ter tempo para aprenderem através dos erros, mas com a orientação firme dos adultos. Não têm o direito de serem idolatradas, nem transformadas em crianças Reborn, que estão a virar moda.
As crianças têm direitos, mas os adultos têm deveres, nomeadamente o dever de contribuir para que eles cresçam e se preparem para a vida adulta.
Confesso que me sinto preocupada com a forma como as crianças estão a ser criadas…aparentemente cheias de direitos, mas não os corretos. E, para mim um dos flagelos, é mesmo a ideia de que para qualquer problema, há uma pílula (medicamento) que resolve. Que dependências estamos a incentivar? Será que vamos ter a maioria dos adultos dopados? Confesso que me assusta…
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