23/05/2025, 10:11 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Oportunidades
Esta rede de creches é, sem dúvida, uma oportunidade para as famílias. É percetível a dificuldade em arranjar quem fique com os bebés após o fim da licença parental. A sociedade tem mudado e o aumento da idade da reforma, a par com a situação económica e social que implica que seja necessária a entrada de dois vencimentos no agregado familiar, tem limitado ou quase anulado a possibilidade da família próxima (ou alargada) criar os bebés.
Antigamente era frequente haver uma avó disponível para criar os netos, mas hoje são quase inexistentes as que têm disponibilidade, pois estão no mercado de trabalho.
Portanto, destaca-se como grande oportunidade para as famílias a existência de vagas para bebés desde os 4 meses, de forma gratuita e perto da residência.
Outra oportunidade é a localização. Uma vez que as creches funcionarão nos Centros Escolares já existentes, têm como aspeto positivo a possibilidade de os pais deixarem no mesmo local os filhos mais pequenos e os mais velhos, que, eventualmente, frequentem o Jardim de Infância ou 1º Ciclo. Outro aspeto positivo é permitir que uma criança nos primeiros 10 anos de vida frequente mais ou menos o mesmo espaço, ou seja, que progressivamente o vá integrando como seu “habitat” natural. Não se sentirão as dificuldades de integração que atualmente se sentem à entrada do Jardim-de-infância.
Constrangimentos
A localização das creches é uma oportunidade, mas em simultâneo um constrangimento. A sua instalação rege-se por regras da Segurança Social e, para haver licenciamento, foi necessário retirar muitos espaços que eram utilizados pela Educação Pré- Escolar e 1º Ciclo. Falava-se que havia muitas salas vazias nos Centros Escolares, mas a maioria dessas salas eram usadas em atividades como as AEC ou para outras atividades complementares às salas de aula.
Atualmente, tanto o Pré como o 1º Ciclo estão quase e exclusivamente cingidos às salas típicas de aula. Contudo, é provável que haja constrangimento na utilização dos espaços, pois creio que haverá espaços partilhados, tal como o refeitório ou o pavilhão. A utilização do próprio recreio não sei se não será condicionada na medida em que o campo de futebol fica logo ao lado do espaço exterior da creche (pelo menos na minha escola) e se a bola avança facilmente as grades, imagino como é fácil acontecer com a pequena cerca.
O que quero dizer é que a localização da creche não pode ser limitadora para as crianças que já frequentam o sistema de educação e de ensino, habituados a ter um espaço de excelência e liberdade. Vamos ver como nos conseguimos adaptar…
Outra questão é mesmo a gestão do edifício: como vão coabitar no mesmo espaço dois coordenadores? Um sob a alçada do Município e/ou Segurança Social e outro sob a alçada dos Agrupamentos e/ou Ministério da Educação? Como vão coordenar os serviços e os próprios espaços comuns? Esse é um desafio, sem dúvida
Há ainda outra questão: a gestão do pessoal. Embora cada entidade tenha o seu pessoal docente e não docente, teremos em ambos os serviços a trabalhar assistentes operacionais e Educadores de Infância. Serão as condições de trabalho iguais? Esse será outro aspeto que poderá, eventualmente, criar constrangimentos. A ver vamos…
Desafios
Os desafios cruzam-se com tudo o que foi dito anteriormente. Mas eu vou aqui levantar o maior desafio, que eu penso que pode ser uma oportunidade/potencialidade ou um constrangimento: o desenvolvimento da parentalidade responsável e ativa!
Para tal desafio as entidades responsáveis pelas creches a cumprir o estipulado por lei: que as crianças frequentem o serviço somente no tempo necessário em que os pais ou responsáveis das crianças estiverem a trabalhar.
Caso tal não aconteça, as creches transformar-se-ão num depósito de crianças, o que já se vai sentindo nos níveis de educação seguintes.
É necessário recuar no sistema educativo e devolver, ainda que de forma imposta se necessário, a responsabilidade aos pais, de serem…Pais!
Não pode o Estado sobrepor-se ou cumprir o papel das famílias. E se as complementa e ajuda, quase subsidia, tem que ter um papel mais regulador e de maior supervisão.
Potencialidades
As potencialidades cruzam-se quase com as oportunidades. Do meu ponto de vista, é potenciador que as crianças entrem desde pequenas em projetos pedagógicos e que possam continuar no mesmo espaço até aos 10 anos, como já referi.
Permitirá a socialização e o desenvolvimento integral da criança desde cedo. Será ainda potenciador de um registo desde cedo de cada criança, permitindo detetar fragilidades ou potencialidades, intervindo precocemente. Será vantajoso na articulação entre os vários agentes educativos, permitindo traçar percursos individuais e até corrigir assimetrias, nomeadamente sociais.
Mas a maior potencialidade, e que penso que irá acontecer num futuro próximo, é a integração das creches, a nível nacional, no Ministério da Educação e, então, a partir daí, a criança entrará no Sistema Educativo desde tenra idade e o próprio Estado deverá assumir um papel verdadeiramente regulador e exigente, a bem do superior interesse da criança e do que queremos para o futuro da nossa Sociedade.
Num sistema gratuito, comparticipado pelo Estado, há que exigir a quem dele beneficia.
Haja coragem!!!
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