07/08/2025, 11:08 h
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FREGUESIAS
Texto: Miguel Meireles / Foto de arquivo
Para além da projecção, que lhes advinha do prestígio social dos seus residentes, impunham-se na colectividade pelo seu intenso dinamismo económico e vivencial. O poder sócio-económico, que neles radicava, conformou, em grande medida, o quotidiano dos outros residentes, no exercício da sua actividade e condicionou a evolução da configuração posterior.
A par da importância dos lugares, como espaços mais restritos de convivência e entreajuda, é bem visível, um investimento intencional na constituição dum centro espacial de referência. A estrutura viária estabelecida, assim como a distribuição e organização do povoamento, expressam e refletem bem este propósito, em relação ao Largo da Igreja. Esta procura de centralidade integrou factores de natureza geográfica, mas sobretudo os de natureza histórica e religiosa, pela implantação nela da Igreja paroquial medieval e da moderna. Não foi apenas a concentração em si deste espaço, como nó radial e como centro de convivência e de comércio, que se relevaram na configuração desse espaço. Importantes haveriam de ser também as consequências que, dessa sua natureza, adviriam para o ordenamento do conjunto do território. A margem espacial da selectividade social tenderá sempre a afirmar-se e alargar-se, sendo pela relação, com e por ele, que se virão a definir e constituir os espaços e lugares, tidos e vividos como periféricos.
Por meados do século passado, o espaço de S.Pedro era marcadamente agro-artesanal. As situações de assalariamento na indústria faziam-se no exterior, eram residuais e socialmente pouco integradas. A propriedade da terra concentrava-se num escasso número de famílias residentes, cuja fonte principal de rendimento advinha da sua exploração. Esta era assegurada por um contingente importante de agricultores-caseiros, cuja reprodução dependia das rendas, estabelecidas por aqueles. De forma direta ou mediada, também as famílias, que se dedicavam às artes e ofícios tradicionais, se encontravam dependentes dos mesmos proprietários, pelos serviços que lhes facultavam.
Ao tempo, a configuração espacial de S.Pedro era bem a expressão desta particular conjuntura de interesses e necessidades sociais e económicas. Razões de parentesco e a coincidência generalizada entre espaço de residência e de trabalho reforçavam as relações de pertença e de identificação com o território. As relações de interconhecimento e de entreajuda eram intensas. Diversificavam-se espacialmente, em função da maior ou menor complementaridade ao nível das atividades, mas eram claramente potenciadas pela relação de pertença a um mesmo lugar. O espaço de S.Pedro, sendo um espaço económica e socialmente coeso, combinava em si vivências espaciais desiguais, que faziam dele uma totalidade diferenciada.
Miguel Meireles
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