09/03/2022, 0:00 h
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Um mundo de hipocrisia não significa, necessariamente, “um mundo de hipócritas”, embora ande lá perto. A hipocrisia ou falsidade é transversal a todos os vectores da vida humana: religiosa, política, social…
Comecemos pela religiosa. Aquela que define o sentido do nosso percurso existencial: eu vivo por quê e para quê?
Conheço, (quem é que não conhece?!) pessoas que vão à missa todos os domingos e, odeiam! Que se vão confessar e, odeiam! Que vão comungar e, odeiam!
Cristo terá dito a um “doutor da lei”: - “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. E, de seguida, contou a Parábola do Bom Samaritano. (Cristo sempre foi difícil de entender porque respondia às perguntas quase sempre com parábolas. Contos com moral.) Ele (Cristo) também terá dito: “Antes de vires ter comigo, faz primeiro as pazes com os teus irmãos, com os teus vizinhos e com todos aqueles com quem tens desavenças. E depois, sim, serás bem-vindo a minha casa.” – Mas, hipocritamente, as pessoas vão à missa ou “Messe do Senhor” apenas porque fica bem, socialmente. E quantas vezes não irão, carregadinhas de ódio, apenas e tão só, para mostrar a sua nova vestimenta?!
Vão ao confessionário, mas não confessam que odeiam. Porque sendo o ódio um sentimento tão mesquinho, tão vil, tão reles, tão baixo, essas pessoas, ao revelarem tal sentimento, estão a revelar-se. E ninguém ou poucos serão aqueles que admitem semelhante baixeza. Não conseguem apear-se do brioso “cavalo da vaidade e do orgulho”.
E, agora, vem o mais grave: odeiam e vão comungar.
Há muito longe no tempo, quando eu era bom rapaz e tinha cerca de 20 anos, escrevi um soneto em que a primeira quadra reza assim:
“Adoro ver, de verdade, /Crianças na comunhão. /Elas são a santidade, /As outras pessoas, não!”
Portanto, o que se pede é que as pessoas sejam, perante Deus: Autênticas. Verdadeiras. Genuínas. Como são todas as crianças. E se assumam como tal. Não se armem em farisaicas, nem em falsos publicanos. Entendo que devem ir à missa e cumprirem todos os preceitos religiosos, sim, mas de coração limpo!
Já confessei que sou cristão. E sê-lo-ei até morrer. Mas, também confesso, aqui e agora, que sou quanto mais cristão, menos católico, apostólico, romano, porque, infelizmente, conheço a “guerra fria” do Vaticano (entre conservadores e liberais) entre a cúria romana e o Papa. Lê-se em qualquer diário que Francisco está cercado por conspirações para o afastarem. Corrupção e fraudes dominam na Santa Sé. O dinheiro das dádivas é desviado dos pobres. Há contas secretas em nome de cardeais. Por isso, ninguém desconhece que ele, Papa Francisco, já foi ameaçado de morte. Ele sabe disso. Mas não tem medo. A essas ameaças responde: “Estou nas mãos de Deus!”.
“O azar da cúria é que o Papa Francisco é Cristão”, diz-nos o Pe. Anselmo Borges. Mas este Padre, sem papas na língua, diz-nos mais…ouçamo-lo numa entrevista que concedeu a Manuel Villas-Boas, para a TSF. Quando este jornalista comenta o estilo de Jorge Mário Bergoglio (nome de baptismo do Papa) dizendo que ele não é comestível por uma parte substancial da hierarquia católica. Eis a resposta do Pe Anselmo: - “Sabe porquê? O grande espanto é que o Papa Francisco é cristão, e a grande tarefa dele é ver se converte os cardeais a cristãos, os bispos a cristãos, os padres a cristãos…E aí tem a razão por que, de facto, o Papa Francisco não é benquisto pela hierarquia.”
Manuel Maia
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