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Gazeta Paços de Ferreira

21/04/2021, 1:35 h

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A CADEIRA DO DIABO

Opinião

Com a queda do amigo Donald Trump e com a crise económica, o presidente da nação fundada por Kemal Ataturk, decidiu marcar um encontro com os líderes da União Europeia, para aproximar a Turquia da União Europeia.

Após várias crises provocadas por atitudes insensatas do presidente Recep Erdogan, nomeadamente a questão dos refugiados com a Grécia e da insolúvel questão do povo curdo, a Europa julgou que Erdogan, ao ver-se sem o apoio americano, iria de ‘’finininho’’ aproximar-se dos europeus… mas enganou-se, porque um autocrata não muda, nunca.

Para este encontro a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, e Presidente do Conselho Europeu Charles Michel, fizeram-se presentes diante de Erdogan para discutir os assuntos, que fazem tremer esta relação sempre instável entre a Europa e a Turquia.

Contudo ninguém esperava a grave quebra de protocolo, de respeito e de cavalheirismo por parte de Erdogan, que colocou a mãe de sete filhos, a primeira mulher ministra da defesa alemã e actual líder europeia, sem cadeira!

Erdogan não lhe perdoou algumas tomadas de posição e não fugiu à sua linha misógina, colocando apenas uma cadeira para si e outra para Charles Michel, deixando a Ursula sentada num sofá, afastada do seu ‘’palco de poder’’, onde a sua cadeira é o símbolo da sua autocracia castradora de direitos e liberdades.
Neste triste episódio da diplomacia internacional, Erdogan colocou nas suas cadeiras o símbolo do poder.

O seu poder confundiu-se com aquele objecto de quatro pernas, que glorifica e endeusa quem nele se senta.

Sentando Ursula von der Leyen num sofá lateral, Erdogan sentiu que o seu poder é absoluto, como se ficasse possuído pelo poder que a cadeira lhe confere.

De repente Erdogan fez-me lembrar Andrés de Proaza, um jovem médico português e judeu, que estudou em Valladolid, e que ainda hoje tem a sua cadeira exposta num museu, com uma fita vermelha colocada para que ninguém arrisque sentar-se nela.

A lenda desta cadeira que pode ser visitada no Palácio de Fabio Nelli, em Valladolid, começou quando em Espanha no ano de 1550, foi dada autorização à Faculdade de Medicina da Universidade de Valladolid para leccionar a primeira cadeira de Anatomia, tendo como professor o médico Alonso Rodrigues de Guevara.

Assim foram dissecados os primeiros corpos no estudo da medicina em Espanha, e um dos primeiros alunos seria Andrés de Proaza de 22 anos.

Um dia uma criança desapareceu, e alguns dias depois, vizinhos de Andrés alertaram as autoridades para os gritos que vinham da casa de Andrés e para o avermelhado das águas que de lá saíam.

As autoridades foram verificar a casa do estudante, e encontram-no sentado a escrever, enquanto ao seu lado estavam várias partes de corpos de vários animais, e do corpo da criança desaparecida.

Interrogado, Andrés disse que fizera um pacto com o diabo, e que ao sentar-se naquela cadeira, o demónio lhe concedera todos os conhecimentos de anatomia que necessitava, e alertou: quem se sentasse naquela cadeira três vezes morreria instantaneamente ou ficaria com o conhecimento absoluto.

O jovem médico foi condenado à fogueira pela Inquisição e os seus bens postos à venda. Porém ninguém os quis, e estes foram guardados na sua faculdade.

Anos depois, ocorreram duas mortes com pessoas que se sentaram na cadeira, e a partir daí a lenda da cadeira do diabo ganhou mais força, e colocaram uma fita vermelha para que esta não fizesse mais vítimas.

A cadeira de Erdogan continua a dar-lhe muito poder, mas pouco conhecimento, e enquanto esta cadeira não fizer cair o ditador, homens e mulheres verão os seus direitos e liberdades dissecados por um regime pouco democrático às portas da Europa.

 Mas aguardaremos sentados no sofá como Úrsula, porque nunca se sabe se esta cadeira, tal como uma outra cadeira que habitava no forte de Santo António da Barra no Estoril em 1968, um dia faça cair este ‘’diabo’’.

Ricardo Jorge Neto

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